Alma minha gentil, que te partiste
tão cedo deste corpo descontente,
repousa tu no nos Ceos eternamente
e vida eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento Etéreo onde sobiste,
memória deste mundo se consente,
não te esqueças daquele amor ardente
que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
algu'a cousa a dor que me ficou
da mágoa, sem remédio, de perder-te,
Pede a Deos, que teus anos encurtou,
que tão cedo de cá me leve a ver-te,
quão cedo dos meus olhos te levou.
Luiz de Camões