CAMONIANA 1.13


Regando-vos com lágrimas saudosas,
Choro já vossa vida quase extinta
Nesta cena que rude a morte pinta,
Vosso seio imagino imerso em rosas.

Carpindo-vos lembranças gloriosas,
Temo que mais minh’alma se ressinta,
Não d’amor deste corpo, qu’é uma finta,
Mas da companhia vossa e tantas prosas.

Eu creio que ao chorar vossa partida
Sofro por vos não ter junto, por perto,
Mas eu padeço ainda, no momento,

Por saber que fôreis em minha vida,
Menos segura alegria pois, decerto,
A única que me sempre foi tromento.
Belo Horizonte, 2 de setembro de 1996.

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Uma celebração camoniana

Ângelo Oswaldo


Quatro sonetos de Luís de Camões dão origem a 56 composições em que o poeta Públio Athayde desenvolve sugestões de cada um dos versos da significativa tetralogia.
Tomado como primeira frase dos novos poemas, o verso do grande luso é o mote que conduz o desempenho do sonetista ouro-pretano no virtuosismo de uma delicada, difícil e audaciosa operação.
Com domínio das artes poéticas e conhecimento atilado do estilo, vocabulário e gramática da era quinhentista, Públio Athayde celebra a admiração pela herança maior da poesia de língua portuguesa ao desdobrar, verso a verso, a emoção e o engenho do vate.
Como num jogo de espelhos em galeria de ecos, as estrofes redimensionam o encantamento do verso camoniano, auscultando-lhe a sonoridade e mergulhando em sua paixão.
"Agoas claras que das fontes vem", os sonetos escritos entre 1996 e 1998 revelam a erudição notável e a fina sensibilidade do autor.
Ao evocar "despojos doces do meu bem passado", ele restabelece o culto do amor tal como ensinado pelo sacerdote supremo da alma gentil.
Oferece-nos uma realização admirável, que rende merecida e necessária homenagem a Camões, na aurora do quinto centenário da transplantação da língua portuguesa para as terras luminosas de Pindorama.