CAMONIANA 3.04

  • Em lugar dos vestidos, pus a vida.
    Antes que me render, tomei sentido.
    Não me cobri de cinzas per partido.
    Não pedi per quartel, nem dei guarida.
  • Em vezes dos refrescos, fui à lida.
    Menos eu me retiro, estou saído.
    Se tomei santos hábitos, desvalido.
    Se votei castidade, está remida.
  • E per tua soidade quase morro,
    Mas eu recuperado não o nego:
    Por pouco me afoguei em tanta mágoa.
  • Houve quem viesse em lídimo socorro,
    Antes que m'afundasse neste pego,
    Voltei à tona, mesmo a fora d'água.
  • Belo Horizonte, 30 de setembro de 1996.

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Uma celebração camoniana

Ângelo Oswaldo


Quatro sonetos de Luís de Camões dão origem a 56 composições em que o poeta Públio Athayde desenvolve sugestões de cada um dos versos da significativa tetralogia.
Tomado como primeira frase dos novos poemas, o verso do grande luso é o mote que conduz o desempenho do sonetista ouro-pretano no virtuosismo de uma delicada, difícil e audaciosa operação.
Com domínio das artes poéticas e conhecimento atilado do estilo, vocabulário e gramática da era quinhentista, Públio Athayde celebra a admiração pela herança maior da poesia de língua portuguesa ao desdobrar, verso a verso, a emoção e o engenho do vate.
Como num jogo de espelhos em galeria de ecos, as estrofes redimensionam o encantamento do verso camoniano, auscultando-lhe a sonoridade e mergulhando em sua paixão.
"Agoas claras que das fontes vem", os sonetos escritos entre 1996 e 1998 revelam a erudição notável e a fina sensibilidade do autor.
Ao evocar "despojos doces do meu bem passado", ele restabelece o culto do amor tal como ensinado pelo sacerdote supremo da alma gentil.
Oferece-nos uma realização admirável, que rende merecida e necessária homenagem a Camões, na aurora do quinto centenário da transplantação da língua portuguesa para as terras luminosas de Pindorama.