CAMONIANA 3.03

  • Por sinal do naufrágio que passei,
    Basta me ver perdida que expressão,
    Pode-se já ver quanto foi ilusão,
    Parece que me é morta toda grei.
  • Mas morto de verdade, bem que sei,
    Está só mesmo amor a tal paixão,
    De que privada a vida ele será vão;
    Posso deixar o mundo ou me ver frei.
  • Nos mares de ilusão estou, em que eu
    O que preciso agora é outra nau,
    Outro sentido certo que me guie.
  • Que perdido eras tu, destino meu,
    Não há vossa passagem a dar vau,
    Nem porto tão seguro que me fie.
  • Belo Horizonte, 16 de setembro de 1996.

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Uma celebração camoniana

Ângelo Oswaldo


Quatro sonetos de Luís de Camões dão origem a 56 composições em que o poeta Públio Athayde desenvolve sugestões de cada um dos versos da significativa tetralogia.
Tomado como primeira frase dos novos poemas, o verso do grande luso é o mote que conduz o desempenho do sonetista ouro-pretano no virtuosismo de uma delicada, difícil e audaciosa operação.
Com domínio das artes poéticas e conhecimento atilado do estilo, vocabulário e gramática da era quinhentista, Públio Athayde celebra a admiração pela herança maior da poesia de língua portuguesa ao desdobrar, verso a verso, a emoção e o engenho do vate.
Como num jogo de espelhos em galeria de ecos, as estrofes redimensionam o encantamento do verso camoniano, auscultando-lhe a sonoridade e mergulhando em sua paixão.
"Agoas claras que das fontes vem", os sonetos escritos entre 1996 e 1998 revelam a erudição notável e a fina sensibilidade do autor.
Ao evocar "despojos doces do meu bem passado", ele restabelece o culto do amor tal como ensinado pelo sacerdote supremo da alma gentil.
Oferece-nos uma realização admirável, que rende merecida e necessária homenagem a Camões, na aurora do quinto centenário da transplantação da língua portuguesa para as terras luminosas de Pindorama.