Que queres mais de mim que destruída
Estava minha safra, podre a messe;
Toda colheita a vida talvez desse,
Perdera-se na fé que foi traída.A seara do amor foi assi erodida,
Perdida toda féria da quermesse,
Posto que tudo nisso per si cesse,
Terei minh'alma agora decaída.Qualquer pendão dobrado não se apruma,
Nem vai gerar grão fértil per semente
Depois deste teu dano que foi sério.Não terás, se quiseres, cousa alguma,
Tudo perdi na culpa tua somente,
Nada mais gero, o campo fica estéril.Belo Horizonte, 02 de julho de 1997.
Quatro sonetos de Luís de Camões dão origem a 56 composições em que o poeta Públio Athayde desenvolve sugestões de cada um dos versos da significativa tetralogia.
CAMONIANA 3.05
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Uma celebração camoniana
Ângelo Oswaldo
Quatro sonetos de Luís de Camões dão origem a 56 composições em que o poeta Públio Athayde desenvolve sugestões de cada um dos versos da significativa tetralogia.
Tomado como primeira frase dos novos poemas, o verso do grande luso é o mote que conduz o desempenho do sonetista ouro-pretano no virtuosismo de uma delicada, difícil e audaciosa operação.
Com domínio das artes poéticas e conhecimento atilado do estilo, vocabulário e gramática da era quinhentista, Públio Athayde celebra a admiração pela herança maior da poesia de língua portuguesa ao desdobrar, verso a verso, a emoção e o engenho do vate.
Como num jogo de espelhos em galeria de ecos, as estrofes redimensionam o encantamento do verso camoniano, auscultando-lhe a sonoridade e mergulhando em sua paixão.
"Agoas claras que das fontes vem", os sonetos escritos entre 1996 e 1998 revelam a erudição notável e a fina sensibilidade do autor.
Ao evocar "despojos doces do meu bem passado", ele restabelece o culto do amor tal como ensinado pelo sacerdote supremo da alma gentil.
Oferece-nos uma realização admirável, que rende merecida e necessária homenagem a Camões, na aurora do quinto centenário da transplantação da língua portuguesa para as terras luminosas de Pindorama.
Nenhum comentário:
Postar um comentário