CAMONIANAS 4.


  • Busque Amor novas partes, novo engenho
    para matar-me, e novas esquivanças,
    que não pode tirar-me as esperanças,
    que mal me tirarão o que eu não tenho.

  • Olhai de que asperezas me mantenho!
    Vede que perigosas seguranças!
    Que não temo contrastes, nem mudanças,
    andando em bravo mar, perdido lenho.

  • Mas, conquanto não pode haver desgosto
    onde esperança falta, lá m'esconde
    amor um mal, que mata e não se vê.

  • Que dias há que n'alma me tem posto
    um não sei quê, que nasce não sei donde,
    vem não sei como, e dói não sei porquê.
  • Luiz de Camões

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Uma celebração camoniana

Ângelo Oswaldo


Quatro sonetos de Luís de Camões dão origem a 56 composições em que o poeta Públio Athayde desenvolve sugestões de cada um dos versos da significativa tetralogia.
Tomado como primeira frase dos novos poemas, o verso do grande luso é o mote que conduz o desempenho do sonetista ouro-pretano no virtuosismo de uma delicada, difícil e audaciosa operação.
Com domínio das artes poéticas e conhecimento atilado do estilo, vocabulário e gramática da era quinhentista, Públio Athayde celebra a admiração pela herança maior da poesia de língua portuguesa ao desdobrar, verso a verso, a emoção e o engenho do vate.
Como num jogo de espelhos em galeria de ecos, as estrofes redimensionam o encantamento do verso camoniano, auscultando-lhe a sonoridade e mergulhando em sua paixão.
"Agoas claras que das fontes vem", os sonetos escritos entre 1996 e 1998 revelam a erudição notável e a fina sensibilidade do autor.
Ao evocar "despojos doces do meu bem passado", ele restabelece o culto do amor tal como ensinado pelo sacerdote supremo da alma gentil.
Oferece-nos uma realização admirável, que rende merecida e necessária homenagem a Camões, na aurora do quinto centenário da transplantação da língua portuguesa para as terras luminosas de Pindorama.