CAMONIANA 3.14
Contenta-te com as lágrimas que choro.
Pera cobrir teu nome desta glória,
Já te dei de que tudo há na memória,
Não terás mais de mim, que te deploro.
Nunca meu rosto escondo e não ruboro,
Por não dizer mais, dar um fim à história,
Encerro aqui esta trama exortatória,
Pois teus erros eu não tos corroboro.
Mas termina este enredo circulante
De meu carpir antigo e tuas mentiras:
Tu não mereces já que me deplore.
O esperar e sofrer no mesmo instante
Findam juntos, que agora te retiras
De minha vida, sem que mais demore.
- Belo Horizonte, 1 de outubro de 1996.
Uma celebração camoniana
Ângelo Oswaldo
Quatro sonetos de Luís de Camões dão origem a 56 composições em que o poeta Públio Athayde desenvolve sugestões de cada um dos versos da significativa tetralogia.
Tomado como primeira frase dos novos poemas, o verso do grande luso é o mote que conduz o desempenho do sonetista ouro-pretano no virtuosismo de uma delicada, difícil e audaciosa operação.
Com domínio das artes poéticas e conhecimento atilado do estilo, vocabulário e gramática da era quinhentista, Públio Athayde celebra a admiração pela herança maior da poesia de língua portuguesa ao desdobrar, verso a verso, a emoção e o engenho do vate.
Como num jogo de espelhos em galeria de ecos, as estrofes redimensionam o encantamento do verso camoniano, auscultando-lhe a sonoridade e mergulhando em sua paixão.
"Agoas claras que das fontes vem", os sonetos escritos entre 1996 e 1998 revelam a erudição notável e a fina sensibilidade do autor.
Ao evocar "despojos doces do meu bem passado", ele restabelece o culto do amor tal como ensinado pelo sacerdote supremo da alma gentil.
Oferece-nos uma realização admirável, que rende merecida e necessária homenagem a Camões, na aurora do quinto centenário da transplantação da língua portuguesa para as terras luminosas de Pindorama.
Nenhum comentário:
Postar um comentário