CAMONIANA 2.12
Pede a Deos, que teus anos encurtou,
Que se apiede, em seu verso d'amor,
Do poeta d'existência só compor,
Dê vida nova à rima que levou.
Pede, pois há nos ceos, junto da Grou,
Fênix, que renasce em sua própria dor,
Índio vate que espero per favor
Me rime desta cruz de touaou.
Se tal graça quiser não me conceder
Queira ao menos me ter morto de dó,
Importa fazer cessar meu sofrer.
Sei que não serei findo nunca só
Pois nosso Deos que é de tudo poder
Há de misturar-te às cinzas meu pó.
Belo Horizonte, 24 de junho de 1997.
Camonianas"Quatro sonetos de Luís de Camões dão origem a 56 composições em que o poeta Públio Athayde desenvolve sugestões de cada um dos versos da significativa tetralogia. Tomado como primeira frase dos novos poemas, o verso do grande luso é o mote que conduz o desempenho do sonetista ouro-pretano no virtuosismo de uma delicada, difícil e audaciosa operação."
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Uma celebração camoniana
Ângelo Oswaldo
Quatro sonetos de Luís de Camões dão origem a 56 composições em que o poeta Públio Athayde desenvolve sugestões de cada um dos versos da significativa tetralogia.
Tomado como primeira frase dos novos poemas, o verso do grande luso é o mote que conduz o desempenho do sonetista ouro-pretano no virtuosismo de uma delicada, difícil e audaciosa operação.
Com domínio das artes poéticas e conhecimento atilado do estilo, vocabulário e gramática da era quinhentista, Públio Athayde celebra a admiração pela herança maior da poesia de língua portuguesa ao desdobrar, verso a verso, a emoção e o engenho do vate.
Como num jogo de espelhos em galeria de ecos, as estrofes redimensionam o encantamento do verso camoniano, auscultando-lhe a sonoridade e mergulhando em sua paixão.
"Agoas claras que das fontes vem", os sonetos escritos entre 1996 e 1998 revelam a erudição notável e a fina sensibilidade do autor.
Ao evocar "despojos doces do meu bem passado", ele restabelece o culto do amor tal como ensinado pelo sacerdote supremo da alma gentil.
Oferece-nos uma realização admirável, que rende merecida e necessária homenagem a Camões, na aurora do quinto centenário da transplantação da língua portuguesa para as terras luminosas de Pindorama.
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