CAMONIANA 4.07
Que não temo contrastes, nem mudanças,
Sabeis que sou audaz a toda prova,
Inda que me lanceis para uma enxova,
Fazendo valer força de ordenanças.
Vós que não desprezastes quaisquer ansas
De me tomar um bem que se renova,
De que pode ter mais cada recova,
Quereis tomar-me tudo meu nas hansas.
Para tanto fazeis da lei mau uso
Forçando-me à dor desta miséria
Que me fará da vida um só suplício.
Mesmo que bem sabendo vos refuso,
Sangrastes profundo, rompendo artéria,
E exangue, sem coragem, sois meu vício.
Belo Horizonte 14 de julho de 1998.
Camonianas"Quatro sonetos de Luís de Camões dão origem a 56 composições em que o poeta Públio Athayde desenvolve sugestões de cada um dos versos da significativa tetralogia. Tomado como primeira frase dos novos poemas, o verso do grande luso é o mote que conduz o desempenho do sonetista ouro-pretano no virtuosismo de uma delicada, difícil e audaciosa operação."
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Uma celebração camoniana
Ângelo Oswaldo
Quatro sonetos de Luís de Camões dão origem a 56 composições em que o poeta Públio Athayde desenvolve sugestões de cada um dos versos da significativa tetralogia.
Tomado como primeira frase dos novos poemas, o verso do grande luso é o mote que conduz o desempenho do sonetista ouro-pretano no virtuosismo de uma delicada, difícil e audaciosa operação.
Com domínio das artes poéticas e conhecimento atilado do estilo, vocabulário e gramática da era quinhentista, Públio Athayde celebra a admiração pela herança maior da poesia de língua portuguesa ao desdobrar, verso a verso, a emoção e o engenho do vate.
Como num jogo de espelhos em galeria de ecos, as estrofes redimensionam o encantamento do verso camoniano, auscultando-lhe a sonoridade e mergulhando em sua paixão.
"Agoas claras que das fontes vem", os sonetos escritos entre 1996 e 1998 revelam a erudição notável e a fina sensibilidade do autor.
Ao evocar "despojos doces do meu bem passado", ele restabelece o culto do amor tal como ensinado pelo sacerdote supremo da alma gentil.
Oferece-nos uma realização admirável, que rende merecida e necessária homenagem a Camões, na aurora do quinto centenário da transplantação da língua portuguesa para as terras luminosas de Pindorama.
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