CAMONIANA 4.04

  • Que mal me tirarão o qu'eu não tenho.
    Não culpem este equívoco que é vosso,
    Pois mais já me tiraram do que posso,
    Estou nu como Deus no Santo Lenho.
  • Foi tudo nesta história que resenho:
    Primeiro meu amor, meu que era nosso,
    Depois dinheiro e títulos, eu endosso,
    E por último os bens que não detenho.
  • Resta-me a vida inútil de quem sofre,
    Por ter perdido cada prata e cobre,
    E cujo amor partiu no mesmo rumo,
  • Nada mais possui, guarda vazio o cofre,
    Tem ainda mais desnudo o corpo pobre,
    Nem o coração, nada toma prumo.
  • Belo Horizonte, 13 de setembro de 1996.

Camonianas
"Quatro sonetos de Luís de Camões dão origem a 56 composições em que o poeta Públio Athayde desenvolve sugestões de cada um dos versos da significativa tetralogia. Tomado como primeira frase dos novos poemas, o verso do grande luso é o mote que conduz o desempenho do sonetista ouro-pretano no virtuosismo de uma delicada, difícil e audaciosa operação."
O soneto acima e toda a série Camonianas estão no livro; para adquirir, clique no link ou no livro. Sugestão de presente!

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Todo autor precisa de um parceiro, seu revisor de textos.

Todo autor precisa de um parceiro, seu revisor de textos.
Keimelion - revisão de textos - há mais de dez anos revisando todo tipo de texto.

Uma celebração camoniana

Ângelo Oswaldo


Quatro sonetos de Luís de Camões dão origem a 56 composições em que o poeta Públio Athayde desenvolve sugestões de cada um dos versos da significativa tetralogia.
Tomado como primeira frase dos novos poemas, o verso do grande luso é o mote que conduz o desempenho do sonetista ouro-pretano no virtuosismo de uma delicada, difícil e audaciosa operação.
Com domínio das artes poéticas e conhecimento atilado do estilo, vocabulário e gramática da era quinhentista, Públio Athayde celebra a admiração pela herança maior da poesia de língua portuguesa ao desdobrar, verso a verso, a emoção e o engenho do vate.
Como num jogo de espelhos em galeria de ecos, as estrofes redimensionam o encantamento do verso camoniano, auscultando-lhe a sonoridade e mergulhando em sua paixão.
"Agoas claras que das fontes vem", os sonetos escritos entre 1996 e 1998 revelam a erudição notável e a fina sensibilidade do autor.
Ao evocar "despojos doces do meu bem passado", ele restabelece o culto do amor tal como ensinado pelo sacerdote supremo da alma gentil.
Oferece-nos uma realização admirável, que rende merecida e necessária homenagem a Camões, na aurora do quinto centenário da transplantação da língua portuguesa para as terras luminosas de Pindorama.