Enquanto quis aquela que eu adoro.
Esta foi a duração da alegria minha,
Quando achei que a tivesse, mas não tinha,
Compus tanto soneto mais canoro.Pensei que a namorasse, não namoro,
Perdi as rimas e a Musa assim asinha.
Se não tiro sequer nenhuma linha,
Que dirá compor verso tão sonoro?Já que não quer me ter per seu amante
Se não será consorte que m'alente,
Que seja por enquanto o alimentoQue nutre quem amor chorando cante
Poesia que sem cuidado se ressente
De Musa sem amor pera frumento.Belo Horizonte, 24 de setembro de 1996.
Quatro sonetos de Luís de Camões dão origem a 56 composições em que o poeta Públio Athayde desenvolve sugestões de cada um dos versos da significativa tetralogia.
CAMONIANA 3.11
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Uma celebração camoniana
Ângelo Oswaldo
Quatro sonetos de Luís de Camões dão origem a 56 composições em que o poeta Públio Athayde desenvolve sugestões de cada um dos versos da significativa tetralogia.
Tomado como primeira frase dos novos poemas, o verso do grande luso é o mote que conduz o desempenho do sonetista ouro-pretano no virtuosismo de uma delicada, difícil e audaciosa operação.
Com domínio das artes poéticas e conhecimento atilado do estilo, vocabulário e gramática da era quinhentista, Públio Athayde celebra a admiração pela herança maior da poesia de língua portuguesa ao desdobrar, verso a verso, a emoção e o engenho do vate.
Como num jogo de espelhos em galeria de ecos, as estrofes redimensionam o encantamento do verso camoniano, auscultando-lhe a sonoridade e mergulhando em sua paixão.
"Agoas claras que das fontes vem", os sonetos escritos entre 1996 e 1998 revelam a erudição notável e a fina sensibilidade do autor.
Ao evocar "despojos doces do meu bem passado", ele restabelece o culto do amor tal como ensinado pelo sacerdote supremo da alma gentil.
Oferece-nos uma realização admirável, que rende merecida e necessária homenagem a Camões, na aurora do quinto centenário da transplantação da língua portuguesa para as terras luminosas de Pindorama.
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