CAMONIANA 3.10

  • Despojos doces do meu bem passado,
    Me foram todos roubados na vida;
    E enquanto choro lágrima sofrida
    Riem-se de mim, eu pobre desgraçado.
  • Minha memória rude que é legado
    Do amor vivido em rota só de ida,
    Já não tinha que ser mais defendida,
    Sendo trilha de amor tão bem jurado.
  • Foi-me levada a parte minha amante,
    O que mais dói no saque que foi feito
    É que foi perpetrado com vileza.
  • Quem me furtou, daqui está distante,
    Nem vai restituir, não tem jeito,
    Meu amor que traído lhe despreza.
  • Ouro Preto, 7 de julho de 1997.

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Uma celebração camoniana

Ângelo Oswaldo


Quatro sonetos de Luís de Camões dão origem a 56 composições em que o poeta Públio Athayde desenvolve sugestões de cada um dos versos da significativa tetralogia.
Tomado como primeira frase dos novos poemas, o verso do grande luso é o mote que conduz o desempenho do sonetista ouro-pretano no virtuosismo de uma delicada, difícil e audaciosa operação.
Com domínio das artes poéticas e conhecimento atilado do estilo, vocabulário e gramática da era quinhentista, Públio Athayde celebra a admiração pela herança maior da poesia de língua portuguesa ao desdobrar, verso a verso, a emoção e o engenho do vate.
Como num jogo de espelhos em galeria de ecos, as estrofes redimensionam o encantamento do verso camoniano, auscultando-lhe a sonoridade e mergulhando em sua paixão.
"Agoas claras que das fontes vem", os sonetos escritos entre 1996 e 1998 revelam a erudição notável e a fina sensibilidade do autor.
Ao evocar "despojos doces do meu bem passado", ele restabelece o culto do amor tal como ensinado pelo sacerdote supremo da alma gentil.
Oferece-nos uma realização admirável, que rende merecida e necessária homenagem a Camões, na aurora do quinto centenário da transplantação da língua portuguesa para as terras luminosas de Pindorama.