CAMONIANA 3.08

  • Tornar a entrar onde não há saída.
    Teu templo, doce amor, que profano,
    O mesmo ao fim da cena, quedo o pano,
    Quero que seja meu per outra vida.
  • Que nossa lida a dois reconstruída
    Remita-me do inferno em que me dano.
    Per muito m'enganado fiquei insano,
    Desde que me deixaste, em tua partida.
  • Teu corpo, consagrado nesse mundo,
    Foi mea felicidade meu pecado,
    Mas era o paraíso nessa terra.
  • Entre o certo e o errado que confundo,
    Voltar à messe sacra, meu ceifado,
    Ribalta que me salva mas soterra.
  • Belo Horizonte, 30 de setembro de 1996.

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Uma celebração camoniana

Ângelo Oswaldo


Quatro sonetos de Luís de Camões dão origem a 56 composições em que o poeta Públio Athayde desenvolve sugestões de cada um dos versos da significativa tetralogia.
Tomado como primeira frase dos novos poemas, o verso do grande luso é o mote que conduz o desempenho do sonetista ouro-pretano no virtuosismo de uma delicada, difícil e audaciosa operação.
Com domínio das artes poéticas e conhecimento atilado do estilo, vocabulário e gramática da era quinhentista, Públio Athayde celebra a admiração pela herança maior da poesia de língua portuguesa ao desdobrar, verso a verso, a emoção e o engenho do vate.
Como num jogo de espelhos em galeria de ecos, as estrofes redimensionam o encantamento do verso camoniano, auscultando-lhe a sonoridade e mergulhando em sua paixão.
"Agoas claras que das fontes vem", os sonetos escritos entre 1996 e 1998 revelam a erudição notável e a fina sensibilidade do autor.
Ao evocar "despojos doces do meu bem passado", ele restabelece o culto do amor tal como ensinado pelo sacerdote supremo da alma gentil.
Oferece-nos uma realização admirável, que rende merecida e necessária homenagem a Camões, na aurora do quinto centenário da transplantação da língua portuguesa para as terras luminosas de Pindorama.