CAMONIANA 3.07

  • Não cures de forçar-me que não sei
    Que rumo dar à vida minha só,
    Nem me faças correr da forca o nó
    Que extinga os suspiros que te dei.
  • Tampouco esperes dê a ti, per lei,
    Qualquer frumento moa em minha mó,
    Que não darei per força nem per dó,
    Pois uma vez já basta o que eu errei.
  • Menos erres, descuido deste compor
    Em que nesta pena acerto a eramá,
    De meu sofrer, de tanto passo mal,
  • E meu carpir será tanto ablutor
    Quão menos pedir em teu provará;
    E o castigo, terá perdão total.
  • Belo Horizonte 6 de abril de 1998.

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Uma celebração camoniana

Ângelo Oswaldo


Quatro sonetos de Luís de Camões dão origem a 56 composições em que o poeta Públio Athayde desenvolve sugestões de cada um dos versos da significativa tetralogia.
Tomado como primeira frase dos novos poemas, o verso do grande luso é o mote que conduz o desempenho do sonetista ouro-pretano no virtuosismo de uma delicada, difícil e audaciosa operação.
Com domínio das artes poéticas e conhecimento atilado do estilo, vocabulário e gramática da era quinhentista, Públio Athayde celebra a admiração pela herança maior da poesia de língua portuguesa ao desdobrar, verso a verso, a emoção e o engenho do vate.
Como num jogo de espelhos em galeria de ecos, as estrofes redimensionam o encantamento do verso camoniano, auscultando-lhe a sonoridade e mergulhando em sua paixão.
"Agoas claras que das fontes vem", os sonetos escritos entre 1996 e 1998 revelam a erudição notável e a fina sensibilidade do autor.
Ao evocar "despojos doces do meu bem passado", ele restabelece o culto do amor tal como ensinado pelo sacerdote supremo da alma gentil.
Oferece-nos uma realização admirável, que rende merecida e necessária homenagem a Camões, na aurora do quinto centenário da transplantação da língua portuguesa para as terras luminosas de Pindorama.